Não espere que nesta nova produção você vá encontrar uma história tão complexa como nos dois últimos longas. O que impera em Onde Vivem os Monstros é a simplicidade, não só do roteiro escrito pelo próprio Spike Jonze, como a forma com o qual ele é conduzido. Os diálogos são diretos e a concepção artística não abre espaço para uma paleta de cores mais ampla, multicolorida, como geralmente acontece nos filmes infantis. O que vai reger a linha de ação neste filme é a atenção especial que o roteiro dá aos personagens. São eles a chave para o desenrolar da história.
Partindo deste princípio é importante ressaltar também que este filme não é necessariamente o que se pode chamar de filme infantil. Não compreenda mal: ele passa a mensagem, é divertido, mas é muito mais profundo do que apenas o clássico e manjado roteiro do “menino que briga com a mãe e depois se arrepende”.
Então, analisando mais profundamente a composição dos personagens a gente percebe que Max é uma criança com sérios problemas afetivos, que sua irmã é uma menina aparentemente distante da família e que sua mãe tenta estreitar os laços afetivos com seu filho, mas se divide com suas outras obrigações. Com base nessas informações, conseguimos construir ao lado do Max o mundo que ele cria em sua mente. O universo imaginário é basicamente um apanhado de representações e referências psicológicas que dificilmente uma criança entenderia, mas que nos faz ir mais fundo durante o pouco tempo de projeção. O que vemos no imaginário de Max é um reflexo de como ele vê as relações entre as pessoas com as quais ele convive.
Não é à toa que o monstro ao qual ele mais se identifica, o Carol, é a criatura mais violenta e instável de toda a comunidade de bichos que Max conhece. É uma representação clara do próprio Max e, como já é de praxe de Spike Jonze, nos leva a nos projetarmos para o personagem principal e analisar as nossas reações às coisas que nos rodeia. Assim como em seus filmes anteriores o espelho está levantado e chega a hora da autocrítica.
Outro ponto que também pode não agradar os pequeninos (e alguns adultos também) é a conclusão do filme, que deixa as convenções um pouco de lado ao empregar um final mais simples, onde pouco é dito mas muito é entendido. E isso não deixa de ser essencial pra trama, mantendo a simplicidade e tronando uma fábula maravilhosa mais realista, mas nem por isso menos emocionante.
Onde Vivem os Monstros é um filme lindo, inteligente e profundo. E hoje já figura na lista dos meus preferidos.
Genero: aventura/fantasia
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