quinta-feira, 8 de abril de 2010

Manoel de Barros

Eu queria ser lido pelas pedras


Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.

"O que eu gostaria de fazer é um livro sobre nada. Foi o que escreveu Flaubert a uma sua amiga em 1852. Li nas Cartas exemplares organizadas por Duda Machado. Ali se vê que o nada de Flaubert não seria o nada existencial, o nada metafísico. Ele queria o livro que não tem quase tema e se sustente só pelo estilo. Mas o nada de meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc, etc. O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use o abandono por dentro e por fora."
Um dos livros mais lindos que já li, tem uma soberba perene e lirismo térreo, e é feito de descasos, descomeços e desconstruções solidas por se fragmentarem no ar, nada se mantem e por isso tudo é lirico belo e lacunar, desde o planger do menino a voz destroçado do trovador. Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.

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